Austríaco naturalizado brasileiro é tema do primeiro filme do diretor
Frederico Mendina
Por Luísa Pécora , São Paulo
Xico Stockinger nasceu na Áustria em 1919 e sonhava em ser piloto de avião. De pai austríaco e mãe inglesa, embarcou para o Brasil quando tinha cerca de três anos, enquanto a Primeira Guerra Mundial abalava a Europa. Anos depois, se naturalizaria brasileiro e descobriria, aqui, o talento para as artes plásticas, sobretudo a escultura.
É o próprio artista quem conta sua história em "Xico Stockinger", documentário que está em cartaz em Rio de Janeiro e São Paulo e que marca a estreia do diretor gaúcho Frederico Mendina.
O projeto começou em 2006, três anos antes da morte de Stockinger. Além de conversas com o próprio artista, que mostra seu cotidiano no ateliê, o filme também tem depoimentos de personalidades que conviveram com ele, como Iberê Camargo, Josué Guimarães, Severo Gomes e o mentor Bruno Giorgi.
Também há entrevistas com especialistas como o crítico Paulo Herkenhoff e José Francisco Alves, curador do Museu de Arte do Rio Grande do Sul (após passagens por São Paulo e Rio, Stockinger se transferiu para Porto Alegre em 1954).
Para Mendina, o filme é uma forma de recuperar a história do personagem. "Existem poucos documentários sobre nossos artistas visuais, muitos já falecidos sem qualquer registro em vídeo", afirmou, em entrevista ao iG . "Nesse sentido, buscamos preservar a memória e o exemplo de Xico Stockinger para as futuras gerações."
Em cena, Stockinger se mostra um personagem carismático e sobretudo humilde, falando sem afetação sobre sua técnica e soltando frases divertidas - em especial sobre os críticos de arte, de quem não gostava. Enquanto passa pela carreira do artista, o documentário também pontua momentos históricos e o envolvimento com movimentos políticos e culturais.
Após exibições em festivais, o filme agora batalha para chegar ao público no circuito comercial, que tradicionalmente destina pouco espaço ao documentário. Para o diretor, é complexa a discussão sobre algum tipo de intervenção que force mudanças no mercado.
"Honestamente, quem decide qual filme irá assistir, ou não, é o público", afirmou Mendina, "Mas a escolha se dá dentro de um número limitado de opções. E aqui reside o problema: como fazer com que os filmes brasileiros se tornem uma opção? Através de publicidade? Através de reserva de número mínimo de salas? Através de intervenção do governo? A resposta não é simples."