Mais Greenaway




2007
Sinopse: O ano 1642 marca o ponto de viragem na vida do famoso pintor holandês, Rembrandt, transformando-o de uma rica e respeitada celebridade num pobre desacreditado. Perante a insistência da sua mulher grávida Saskia, Rembrandt concorda relutantemente em pintar a Milícia dos Mosqueteiros de Amsterdã num retrato de grupo que mais tarde ficará conhecido como “A Ronda da Noite”. Ele rapidamente descobre que existe uma conspiração, em marcha, entre os mercadores de Amsterdã com objetivos financeiros e de poder pessoal, naquela que era, à época, a cidade mais rica do Mundo Ocidental. Rembrandt tropeça num homicídio chocante. Confiante no desejado nascimento de um filho e herdeiro, Rembrandt está determinado a expor os conspiradores assassinos construindo meticulosamente a sua acusação sob a forma de uma pintura encomendada, pondo a descoberto um lado desagradável e hipócrita da Época de Ouro da Sociedade Holandesa.



Crítica: Peter Greenaway é um dos mais originais cineastas e autores que navegam no firmamento cinematográfico e, embora os tempos estejam bem diferentes, ele mantêm-se fiel aos princípios propostos desde o início da sua carreira, recorde-se que ele é originário do universo pictórico, sendo portanto a pintura um dos mais importantes elementos do seu cinema.

E quando nos recordamos desse verso do grande poeta que dizia “mudam-se os tempos mudam-se as vontades”, percebemos a razão do cinema do cineasta permanecer fiel aos seus princípios. “A Ronda da Noite” / “Nightwatching” é a prova provada (que nos desculpem a redundância) disso mesmo. Aqui Peter Greenaway volta a navegar no interior da pintura, mais concretamente revisitando a vida do célebre pintor holandês Rembrant e um dos seus mais famosos quadros, intitulado “Night Watch” / “A Ronda da Noite”, no qual ele denuncia uma conspiração da célebre Milícia dos Mosqueteiros de Amsterdã, havida nesse ano de 1642, onde todos os participantes tinham uma razão obscura, que será iluminada/retratada pela pintura do gênio.

Estamos assim perante uma obra que faz a ponte com um dos seus filmes mais célebres, o inesquecível, “O Contrato” / “The Draughtman’s Contract”, que nesses saudosos anos oitenta nos revelou um cineasta. Na época muito se escreveu sobre ele e a sua obra, para depois lentamente cair no esquecimento. Tal como em “O Contrato”, em que o pintor contratado contava nos seus quadros como se processou um assassinato sendo mais tarde, também ele, vítima do seu desafio artístico, aqui Rembrant, que na época já não possuía a celebridade dos primeiros tempos e lutava com enormes dificuldades econômicas, repare-se a forma como a sua mulher Saskia (Eva Brithistle) o convence a aceitar a encomenda da Milícia, será também ele perseguido pela sua visão, ou seja, o artista usa a sua arte para denunciar um crime que tinha ficado impune.

Peter Greenaway, após a ruptura com Michael Nyman (o habitual compositor das suas bandas sonoras, que se tornou famoso através da sua colaboração com o cineasta), voltou a possuir nesta película uma espantosa banda sonora da autoria de Wlodzimierz Pawlik que constrói ao longo do filme uma partitura onipresente, utilizando os instrumentos de cordas de uma forma redentora, pontuando o filme como se fosse também ele um pintor.

Por outro lado a fotografia, esse “must” eterno da obra do cineasta, revela-nos Reiner von Brurmmelen que iniciou a sua colaboração com o cineasta em “8 ½ Women”, seguindo as pisadas desse grande Mestre da fotografia chamado Sacha Vierny, outro dos habituais colaboradores de Greenaway. Reparem como Brurmmelen usa a luz de uma forma maravilhosa e depois há sempre esses “travellings” que nos fascinam, símbolo mais-que-perfeito da assinatura do cineasta.

Mal surgem as primeiras imagens de “A Ronda da Noite” no écran, verificamos de imediato que estamos perante um filme de Peter Greenaway e, depois, só nos resta mergulhar serenamente na sua Arte e acompanhar a vida do célebre pintor holandês.

Redescobrir esta obra de Peter Greenaway é mergulhar num universo de luz e cor, onde o medo e o amor do artista andam de mãos dadas, em busca da salvação da sua Arte. Descobrir de “Nightwatching” representa o mergulho perfeito num cinema que, infelizmente, se tornou cada vez mais invisível para todos nós.

Título Original: Nightwatching
Realização: Peter Greenaway
Argumento: Peter Greenaway
Elenco: Martin Freeman, Emily Holmes e Eva Birthistle
Gênero: Drama
Fonte: www.foradecena.com/critica-nightwatching-a-ronda-da-noite