Tem vezes em que lemos e nos encontramos em palavras de outros. Pensamentos que já estavam lá, mas que alguém encontrou a melhor forma de expressá-los.
Como o que acabei de ler em Lya Luft.
Sobretudo, escrevo porque essa busca de sentido que imprime em nós sua marca desde o primeiro instante: esse tatear como num fundo d'água onde nossos dedos deparam com um rosto, sim, este me poderá entender, sim, por aqui vai o meu destino... Mas as dissonâncias se sobrepõem, e no fundo de cada um de nós existe o medo, a inquietação, a consciência da morte, do talvez nada. De outro lado, muitas vezes prevalece a solidariedade, o entendimento, a generosidade interior: podemos não ser amargos, podemos não ficar isolados, podemos nos humanizar mais. E disso também falamos, nós os escritores.
Já a citação de Blanchot me fez pensar na escultura.
O erro e o fato de se estar a caminho sem jamais poder parar transformam o finito em infinito. Ao que se acrescentam estes traços especiais: apesar de o finito ser fechado, é sempre possível esperar sair dele, enquanto que a infinita vastidão, por ser sem saída, é prisão; do mesmo modo que todo o lugar absolutamente sem saída se torna infinito. O lugar do descaminho ignora a linha reta; nunca se vai de um ponto a outro ponto; não se parte daqui para chegar ali; nenhum ponto de partida e nenhum começo para a caminhada. Antes de se ter começado, já se começa a recomeçar; antes de se ter terminado, repisa-se; esta espécie de absurdo que consiste em regressar sem nunca ter partido, ou em começar por recomeçar, é o segredo da "má" eternidade, correspondente à "má" infinitude, e talvez uma e outra encerrem o sentido do devir.
"Ela olha o vazio, diz Stein. É a única coisa que olha, mas bem.
Ela olha bem o vazio".
(Marguerite Duras)
Faço paródia a Duras:
Fazer arte.
Não posso.
É preciso.
Alguém faz?
Não se pode.
Ela já está aí.
E se faz.
É o desconhecido que trazemos conosco: buscar essa expressão, é isto o que se alcança.
Isto ou nada.
"Ravissement" continua sendo um enigma.