Direção de Kaplanoglu, 2010.
Um filme com foco em instantes expandidos e poucos diálogos. Vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlin 2010.
Ao contrário dos filmes que se passam em cidades grandes como Istambul, Um Doce Olhar nos transporta para uma região montanhosa com paisagens de tirar o fôlego, em meio a uma comunidade tradicional, onde é impossível definir em que década se passa a história. Lá acompanhamos a vida do garoto Yusuf, de seis anos, ao lado de seu pai apicultor Yakup e sua mãe lavradora Zehra.
Yusuf tem uma certa resistência à mãe, que não o trata de maneira dura, mas é quem o força a tomar leite e fazer o dever de casa, o suficiente para que qualquer criança de 6 anos a trate com respeito, mas o contato é simplesmente o necessário. Já o pai do menino é cúmplice e confidente. Um dos segredos que eles guardam são em relação aos sonhos de Yusuf, que ele só conta para o seu pai em forma de sussurro. A química entre os dois é inegável, mesmo quando ambos vão para o meio da floresta retirar o mel das colméias. Na escola, Yusuf quer ganhar o broche de mérito para dar orgulho ao pai, mas ele tem problemas com timidez e ansiedade que o impedem de ler os textos em voz alta. Esses pequenos dramas permeiam a sua vida, até que seu pai demora demais a voltar de uma viagem para procurar mel em territórios distantes e Yusuf se dá conta de que existem dificuldades bem maiores ao seu redor, no mundo que o espera.
Um Doce Olhar é o típico filme de festival, lento, contemplativo, econômico. Praticamente não há trilha sonora que não seja o barulho do vento batendo nas árvores, a água da chuva nos telhados ou passos do menino andando pela lama no seu caminho para a escola. Poucos também são os movimentos de câmera, que prefere se manter parada pegando o cenário real.
O trecho da história sobre o veleiro feito por seu pai é de extrema poesia. O ciúmes de Yusuf e depois o arrependimento em relação aos seu errôneos pensamentos.
Trata-se de uma trilogia. O título original do filme, "Bal", quer dizer "Mel". Os outros dois longas são "Yumurta" ("Ovo"), de 2007, e "Sut", ("Leite"), de 2008 - ambos inéditos em circuito comercial no Brasil, mas exibidos em festivais, como a Mostra Internacional de São Paulo.
Mesmo desejando continuar na noite de Yusuf e acordar com ele em meio à floresta, afirmo que gostei muito do filme. Mostra uma conexão entre as mais diversas formas de vida.