Filme - Viskningar och rop (Gritos e sussurros)


Comecei a assistir aos filmes do cineasta sueco Ingmar Bergman (1918-2007).
A escolha por esta obra como marco de início foi casual. Não vejo necessidade de seguir uma cronologia. Até me parece interessante esse ir e vir na obra de um artista como este.
Para os apreciadores da sétima arte não tem como não admirar esta bela produção.
Já no início do filme o cenário nos leva a observar os detalhes tal qual acontece com o Cisne negro. A sala vermelha, as mulheres com longos vestidos brancos. A elegância dos gestos e olhares, são aspectos que chamam a atenção. Os ruídos são marcantes. Os relógios a baterem. O risco da caneta na folha de papel. O piano. Sons que são cortados apenas com o grito de dor da irmã doente. 


O filme examina com precisão alguns dos temas favoritos de Bergman: a futilidade do amor, a quase impossibilidade da verdadeira comunicação, a inacessibilidade da fé. Lembra o conto do escritor russo Anton Tchekov sobre três irmãs.
Segundo Kemp, Philip, este filme marca um período de reinvenção e renovação na carreira de Bergman - os flashbacks fluidos, os close-ups sensuais e o emprego suntuoso e sufocante da cor para criar um drama psicológico que é, ao mesmo tempo, rico e rigoroso.
Bergman afirmou que poderia imaginar todos os seus filmes em preto e branco, exceto este, e aqui o estilo sedutor se amolda ao conteúdo. O diretor de fotografia Sven Nykvist experimentou por três semanas captar os diversos tons do vermelho -  a cor do sangue, da paixão e (para o diretor) da própria alma. As mulheres enigmáticas e fantasmagóricas vagueiam em vestidos e camisolas de um branco atordoante.
Karin (Ingrid Thulin) e Maria (Liv Ullman) cuidam da irmã caçula Agnes (Harriet Anderson), que está à beira da morte, mas é a empregada Anna (Kari Sylwan) que lhe traz conforto. O filme retrata um mundo tomado pela dor - física, emocional e espiritual. Sequências de sonhos e flashbacks estabelecem como o passado e o presente se sobrepõem, ao mesmo tempo que oferecem uma explicação para a evidente paralisia emocional. Bergman, porém, raramente contemplou um mundo sem esperança e o filme termina com um nota de graça. Anna lê um trecho alegre do diário de Agnes e a ação volta ao passado para captar um passeio feliz das irmãs pelos jardins dourados pelo outono.


O primeiro som humano é um ofegar de agonia.



Esta cena é linda e poética. O conforto de Anna a Agnes. Existe uma sedução velada entre ambas, mas não chegamos a nenhuma conclusão.

"Fomos até dar uma pequena caminhada. Foi um acontecimento e tanto (...). Toda a minha dor foi embora. As pessoas de quem eu mais gosto estão comigo (...). 
Pensei: isto é realmente a felicidade"

O cinema não é um ofício. É uma arte. Cinema não é um trabalho de equipe. O diretor está só diante de uma página em branco. Para Bergman estar só é se fazer perguntas; filmar é encontrar as respostas. Nada poderia ser mais classicamente romântico. (Jean-Luc Godard)

Encontrei um "videozinho" produzido pela Veja que dá uma ideia bem geral de Bergman. Mas seu último filme não foi Fanny & Alexander e sim Saraband (2003).