Ano de 1897. Uma vila parece ser o local ideal para viver: tranquila, isolada e com os moradores vivendo em harmonia. Porém este local perfeito passa por mudanças quando os habitantes descobrem que o bosque que o cerca esconde uma raça de misteriosas e perigosas criaturas, por eles chamados de "Aquelas de Quem Não Falamos". O medo de ser a próxima vítima destas criaturas faz com que nenhum habitante da vila se arrisque a entrar no bosque. Apesar dos constantes avisos de Edward Walker (William Hurt), o líder local, e de sua mãe (Sigourney Weaver), o jovem Lucius Hunt (Joaquin Phoenix) tem um grande desejo de ultrapassar os limites da vida rumo ao desconhecido. Lucius é apaixonado por Ivy Walker (Bryce Dallas Howard), uma jovem cega que também atrai a atenção do desequilibrado Noah Percy (Adrien Brody). O amor de Noah termina por colocar a vida de Ivy em perigo, fazendo com que verdades sejam reveladas e o caos tome conta da vila.
Filme de M. Night Shyamalan.
Uma fronteira separa claramente a vila e a floresta. Se nenhum morador atravessá-la numa determinada direção, nenhuma criatura da floresta transporá a outra. Entretanto, uma moça cega decide enfrentar essa floresta para conseguir um remédio "na cidade" que salvará seu namorado gravemente ferido.
O clichê segundo o qual o amor é cego encontra aqui novo frescor e sentido. Dois amigos que enxergam decidem acompanhá-la, mas logo desistem, transpassados pelo medo. *Enxergar foi-lhes prejudicial, fornecendo uma profusão de objetos para a sua imaginação impressionável.
A jovem cega fica sozinha.
Mas ser cega, paradoxalmente, lhe é útil: *ela não pode ter medo do que não enxerga.

Chapeuzinho Amarelo - pois esta é a cor supostamente protetora da capa que ela usa, sem poder vê-la -, essa adolescente cega e apaixonada, perdida numa floresta hostil, nos dá uma boa ilustração da condição humana. *Entendimento finito, mas vontade infinita. Já percebemos, confusamente, cegamente, que a luz que poderia vir dos olhos - virá do coração. Traduzido em linguagem cartesiana: quando o entendimento não pode fornecer as chaves, cabe à vontade dar a solução necessária para conduzir uma ação. Uma ação só poderá ser decisiva se for decidida.
Podemos, quando estamos perdidos, ter uma intuição, como se diz. "Sinto que é por ali". O perigo que há em seguir essa intuição é que, fundamentada apenas no sentimento ou no pressentimento, ela corre o risco de mudar no caminho. Podemos terminar girando em círculos. Estratégia ruim, responde Descartes. *Quando não sabemos, não é uma intuição que irá nos tirar dali, mas uma decisão.
Como sublinha Pourriol - Gostaríamos de sair da floresta pelo melhor caminho possível, o mais curto. Por exemplo, gostaríamos de ser iluminados pelo entendimento, mas o que fazer quando isso não é possível? O que fazer quando nada nos indica por onde sair? E, uma vez que não podemos saber tudo, em que princípios fundamentar nossa ação? Não estamos condenados a vagar na floresta da indecisão?
Não, responde Descartes, basta escolher uma direção, ao acaso, se necessário, e manter-se nela. Ainda que tomemos o caminho mais longo para sair dessa floresta - melhor fora dela do que perdido nela.
Um pouco de filosofia prática - *Para decidir não há necessidade de saber. O que faz com que uma escolha seja correta não é o teor da escolha, é perseverarmos nela. O segredo da ação, portanto, não é saber, mas, como diz Alain, "engajar-se nela".
Se por um lado nosso entendimento é limitado, por outro nossa vontade é infinita. Mesmo sem saber, podemos decidir. Quando há uma razão para escolher nos decidimos. O que faz com que uma ação seja boa é que eu a faço - toda decisão parte de uma escolha.
Não podemos tudo, mas podemos querer tudo.
O final é muito bom - e o sentido de toda história se conecta de forma racional e com primor.