O terremoto ocorrido no Chile em fevereiro ainda choca por suas consequencias. Além da perda material básica e de perdas humanas, a decadência moral é algo que perturba e preocupa.
Segundo o Jornal da Universidade de abril "três dias após o abalo sísmico, moradores tanto de bairros periféricos como de regiões de classe alta e média saquearam estabelecimentos comerciais, assaltaram edifícios públicos e residenciais. Alguns chegaram a praticar atos de vandalismo, incendiando e destruindo construções e instalações de infraestrutura".
Tentamos imaginar o pavor e o medo que tomou todo o país. Como podem pessoas que pareciam "normais" e que não tinham antes praticado nenhum delito, se aproveitar de uma circunstância de caos para extravasar seu instinto mais animal e grotesco?
"Os materiais roubados nos centros e nas áreas comerciais das cidades mais devastadas viraram mercadoria para venda nos bairros residenciais mais pobres. Enquanto isso, a polícia e os bombeiros dividiam o tempo entre o resgate de mortos e feridos e a coação aos crimes, sem contar a agravante da falta de iluminação".
Como explicar esse fenômeno? Vemos grande semelhança com o livro (e filme) "Ensaio sobre a cegueira". O foco dessa obra de Saramago nem é mostrar como a debilidade física pode afetar a vida humana, mas sim apontar para o "terremoto interior", o desmoronar completo de uma sociedade que perde a sua civilidade. Da mesma forma, como na vida real de todas aquelas pessoas no Chile, oportunistas passam a criar um caos ainda maior do que a causa primeira. É impressionante como as pessoas parecem se tornar outras mediante certos episódios. Igualmente, temos o exemplo menor de acidentes, em que as pessoas furtam a carga de caminhões ou até se apossam dos pertences das vítimas.
Certamente percebemos uma forte distinção hoje entre a diversidade humana. Ainda bem que há essa diferença e que ainda podemos contar com pessoas cujo coração parece ser maior do que de vários outros seres juntos.
O que existe no mundo pode se manifestar no grandioso e também em atos mesquinhos de menor intensidade.
Não passei ainda pela experiência de ver fisicamente atos de vandalismos empreendidos por um grupo. Apesar disso, observo o quanto estamos cercados de seres que não dão a mínima para o outro e não respeitam limites. A verdade é que além do mundo estar super populoso, cada um precisa de muito espaço e muitos bens para sobreviver. Notamos aqui que o dinheiro e o poder não valem nada para a moral. Quantas vezes nos sentimos perturbados por aqueles indivíduos que gritam ou falam alto, bebem e comem como animais selvagens, falam mesquinharias, dirigem como loucos e ficam por aí espalhando mal estar por onde passam. É sim, dinheiro não traz elegância, bom gosto ou caráter. As pessoas ainda não perceberam que nada disso tem importância. O que vale nesta vida é cultivar o bem, o amor e a amizade por aqueles que admiramos e que nos trazem bons momentos.
Penso que todas as pessoas querem viver com paz, amor e felicidade, mas quando se comportam mal umas com as outras é porque alguma dessas qualidades estão em decadência.
Acredito que todos somos energia. Uma forma de poder que só pode se manifestar quando a percebemos e desenvolvemos. O maior castigo para aquele que faz crueldades é continuar sendo ele mesmo, sempre e sempre.