Curta Mexicano


A ciência tenta construir um mundo que permaneça invariável às intenções e conflitos humanos (...)
No entanto, o humanista ocupa-se, principalmente, do mundo e das mudanças que experimenta (...)
Talvez seja por este motivo que os tiranos odeiam ou temem tanto
os poetas, os novelistas, historiadores e filósofos.
Jerome Bruner




O curta "La leche y el agua", dirigido por Celso García, é um forte exemplo das relações entre ficção e realidade.
Uma senhora já bastante idosa mora sozinha em uma terra árida. Seu cotidiano gira em torno de duas ações. Por um lado, a atenção com sua única vaca - o leite, que usa como alimento e também como oferenda ao marido já morto. De outro, a espera pela chuva.
Fluídos tão necessários nesse caso, como as construções mentais de nossa personagem. O que chama mais atenção é a simplicidade dessa existência e como a vida é frágil e dependente. A solidão e a espera. O imaginário e o misticismo. São duetos que cercam os doze minutos que poderiam resumir doze anos de repetição - dia após dia.
A realidade e a fantasia são os grandes produtores de sentido. Comédia de situações efêmeras.
No final, o cansaço e a falta de esperança resultam na ação significativa. É a impressão sensível de um fragmento de tempo e espaço que gera o derradeiro sentido de vida. Nesse caso, duas necessidades e uma anula a outra.
Essa história configura o que é recorrente em qualquer personagem - é a natureza da psique humana que constrói o imaginário.
O que parece ser óbvio cria fissuras notáveis quando deslocamos o ser de seu meio.
Nosso maior laboratório está nesse pedacinho de mundo em que nos encontramos.
Não podemos compreender os sonhos nem mesmo aquele que sonhou - acredito que Freud pense o oposto. Entretanto, em toda narrativa somando-se meios e fins, extraímos a essência daquilo que nos querem comunicar. E isso basta por hora.