Animação - Jacinta

Gostei bastante desta animação. 
Você se torna e termina como aquilo que escolheu fazer e ser durante toda uma vida. Neste caso, a modelagem mais bonita foi a última. Colorida. Antes de ir embora, ela percebeu que o que precisava já estava nela. Uma fração de tudo aquilo que restava a pobre mulher. A maior obra só está terminada quando o próprio ato se extingue ao mesmo tempo e concomitante ao ser que deseja.


P/Aram - escultor

Obras do espírito


































"Esquecer insensivelmente a coisa que olhamos.
Esquecê-la, pensando nela, por uma transformação natural, contínua, invisível, em plena luz, imóvel, local, imperceptível... como àquele que, ao comprimir, escapa um pedaço de gelo.
E inversamente.
Encontrar a coisa esquecida olhando o esquecimento.
Acontece-me com frequência, quando esqueço uma determinada coisa, de começar a me observar para perceber esse estado e essa lacuna. Quero me ver esquecendo, sabendo que esqueci, e procurando.
Talvez seja este um método, opor a toda falha mental seu estudo imediato pela consciência?
Assim (ou contrariamente?), a própria dor empalidece, por um momento, quando a olhamos de frente - se pudermos".
Paul Valéry

Invention of Love


As sombras de Goya

As sombras dos homens



Essa é a grande vantagem de ter um espaço como este pra registrar alguns fragmentos de nós, de nossas escolhas. Quando a alguns anos, mais adiante, olhamos para trás, eis uma lembrança que poderia já não existir mais. Sim, não existir mais. Nossa mente vai condensando as informações - resumindo os acontecimentos. É assim também na história da humanidade. Muitos afirmam que realmente é o grande que tem valor. Pra mim não. É o detalhe mesmo, estando ele ou não compondo o considerado essencial.
As sombras de Goya. Aluguei o filme com vontade de aprender mais sobre este artista espanhol, mas na verdade, o filme faz ainda mais, nos lembra momentos tristes de um mundo tomado pela ignorância. Como pode tamanha falta de sensibilidade nas almas? Em nome de Deus? Mas que deus é esse que tortura, que explora, que pune, que mata? Nem é somente matar, mas é tirar toda a dignidade, e por anos, que se tornam demorados para passar. Eu realmente não consigo entender. Penso que todos nós, mesmo os ateus, possuem uma alma. Mas aonde está o sentimento daquele que faz tão mal ao outro? Que fator maior é este que destrói completamente a vida de pessoas boas e que eram cheias de vida e vontade de futuro?
Como mencionei no início - esse ir e vir. Eu já assisti a este filme a alguns anos atrás, mas hoje, ele me veio tão forte, tão belo, tão triste. Ah sim, não duvido que pode haver muito do belo na tristeza.
1792 - Madri - A igreja questiona as gravuras de Goya. Diz que são hereges, diabólicas. Tudo porque ele desenha prostitutas como anjos. Mostra a realidade sem enfeites. Reproduz os feitos da igreja da forma como os vê. Sem medo. Sem arrependimentos. Bom, na verdade, ele só tem essa possibilidade porque é o pintor oficial do rei. Duvido que sem esse aparato ele enfrentasse a inquisição. O padre explana, enquanto expõe as gravuras aos membros do clero: "Este homem! É isto como o mundo está nos vendo! Um homem que admira Voltaire - o príncipe das trevas! Aquele que espalha idéias que envenenam a alma das pessoas".
Marcante a parte em que o padre Lorenzo abusa da alma e do corpo da linda e singela Inês. Porque tal situação se repete tanto? Esses homens primitivos! O abuso de poder é repulsivo.
Não importa se a pessoa é bela ou feia, pobre ou rica, saudável ou doente, feliz ou infeliz. O que importa é o seu gesto para o outro. O respeito pela vida. Ninguém tem o direito de fazer maldades. Seja lá qual for. (A não ser em situações totalmente extremas -como em defesa própria) Mas será? Todos podem alegar que seus atos são em defesa! Bom, aí já é outra discussão.
Gostei da cena do jantar em que o anfitrião ao receber o padre Lorenzo foi muito elogiado pela escolha do vinho. A resposta foi bem curiosa. O vinho daquela noite (certamente o mais caro para impressionar o padre), foi envelhecido num navio que deu duas voltas ao mundo. Segundo ele, é preciso movimento constante para alcançar o melhor sabor e aroma. 
Terrível a parte da tortura. Não sou contra. Já pensei muito sobre isso, mas quando a justiça não cumpre o seu papel... Eu, quando me coloco na posição de outro que sofre pela estupidez alheia por total falta de amor, não aceitaria. É incrível o poder da arte em mostrar esses fragmentos de forma tão real. Quando fico indignada depois de um filme, minha mãe sempre diz - "mas o que é isso! é só um filme! não devemos levar tão a sério!". Não é verdade. Nós sabemos de tudo. Temos muita informação. A arte é só um retrato. Ninguém escapa da realidade. Há momentos. E aquele que consegue ver e se preocupar apenas consigo mesmo... Que bom! Ótimo! Alguém que vive e deixa viver. Mas tem pessoas que ferem em demasia.
Mas então, durante a tortura, mesmo afirmando com todas as suas forças, ser inocente, do que valeu? Mas eles disseram: "Se você é inocente, Deus te dará forças diante de toda a dor". Uau!
Bom, vamos no diz a sinopse do filme:
Na Espanha do século XVIII, em meio ao radicalismo religioso e à iminente invasão das tropas napoleônicas, o talentoso espanhol Francisco Goya é abertamente celebrado na corte do rei Carlos IV. A adolescente Inés Bilbatua, musa do pintor, é presa sob falsa acusação de heresia. Goya recorre ao influente Frei Lorenzo (Javier Bardem), pretensamente seu amigo, sem saber que está lidando com um dos próprios líderes da inquisição.  Baseada em fatos reais, esta superprodução apresenta personagens intensos e os horrores de uma guerra que se refletiram vivamente na pintura de Goya, como testemunhas de uma época muito turbulenta na história.
"Arrependa-se e livre-se dessa cegueira".
É tão triste, mas é aí que está a beleza e a poesia do filme. Nesse ser, nesse homem, capaz do melhor e do pior. Uma lembrança, é isso o que nos espera.
A cena final é fantástica, de uma fotografia impressionante.



O olhar para trás
Nem surgisse um olhar de piedade ou de amor
Nem houvesse uma branca mão que apaziguasse minha fronte palpitante...
Eu estaria sempre como um círio queimando para o céu a minha fatalidade
Sobre o cadáver ainda morno desse passado adolescente.

Talvez no espaço perfeito aparecesse a visão nua
Ou talvez a porta do oratório se fosse abrindo misteriosamente...
Eu estaria esquecido, tateando suavemente a face do filho morto
Partido de dor, chorando sobre o seu corpo insepultável.

Talvez da carne do homem prostrado se visse sair uma sombra igual à minha
Que amasse as andorinhas, os seios virgens, os perfumes e os lírios da terra
Talvez… mas todas as visões estariam também em minhas lágrimas boiando
E elas seriam como óleo santo e como pétalas se derramando sobre o nada.

Alguém gritaria longe: – "Quantas rosas nos deu a primavera!..."
Eu olharia vagamente o jardim cheio de sol e de cores noivas se enlaçando
Talvez mesmo meu olhar seguisse da flor o vôo rápido de um pássaro
Mas sob meus dedos vivos estaria a sua boca fria e os seus cabelos luminosos.

Rumores chegariam a mim, distintos como passos na madrugada
Uma voz cantou, foi a irmã, foi a irmã vestida de branco! – a sua voz é fresca como o orvalho...
Beijam-me a face – irmã vestida de azul, por que estás triste?
Deu-te a vida a velar um passado também?

Voltaria o silêncio – seria uma quietude de nave em Senhor Morto
Numa onda de dor eu tomaria a pobre face em minhas mãos angustiadas
Auscultaria o sopro, diria à toa – Escuta, acorda
Por que me deixaste assim sem me dizeres quem eu sou?

E o olhar estaria ansioso esperando
E a cabeça ao sabor da mágoa balançando
E o coração fugindo e o coração voltando
E os minutos passando e os minutos passando...

No entanto, dentro do sol a minha sombra se projeta
Sobre as casas avança o seu vago perfil tristonho
Anda, dilui-se, dobra-se nos degraus das altas escadas silenciosas
E morre quando o prazer pede a treva para a consumação da sua miséria.

E que ela vai sofrer o instante que me falta
Esse instante de amor, de sonho, de esquecimento
E quando chega, a horas mortas, deixa em meu ser uma braçada de lembranças
Que eu desfolho saudoso sobre o corpo embalsamado do eterno ausente.

Nem surgisse em minhas mãos a rósea ferida
Nem porejasse em minha pele o sangue da agonia...
Eu diria – Senhor, por que me escolheste a mim que sou escravo
Por que chegaste a mim cheio de chagas?

Nem do meu vazio te criasses, anjo que eu sonhei de brancos seios
De branco ventre e de brancas pernas acordadas
Nem vibrasses no espaço em que te moldei perfeita...
Eu te diria – Por que vieste te dar ao já vendido?

Oh, estranho húmus deste ser inerme e que eu sinto latente
Escorre sobre mim como o luar nas fontes pobres
Embriaga o meu peito do teu bafo que é como o sândalo
Enche o meu espírito do teu sangue que é a própria vida!

Fora, um riso de criança – longínqua infância da hóstia consagrada
Aqui estou ardendo a minha eternidade junto ao teu corpo frágil!
Eu sei que a morte abrirá no meu deserto fontes maravilhosas
E vozes que eu não sabia em mim lutarão contra a Voz.

Agora porém estou vivendo da tua chama como a cera
O infinito nada poderá contra mim porque de mim quer tudo
Ele ama no teu sereno cadáver o terrível cadáver que eu seria
O belo cadáver nu cheio de cicatriz e de úlceras.

Quem chamou por mim, tu, mãe? Teu filho sonha...
Lembras-te, mãe, a juventude, a grande praia enluarada...
Pensaste em mim, mãe? Oh, tudo é tão triste
A casa, o jardim, o teu olhar, o meu olhar, o olhar de Deus...

E sob a minha mão tenho a impressão da boca fria murmurando
Sinto-me cego e olho o céu e leio nos dedos a mágica lembrança
Passastes, estrelas... Voltais de novo arrastando brancos véus
Passastes, luas... Voltais de novo arrastando negros véus...



Vinicius de Moraes. Rio de Janeiro, 1935

              

Pixar - For the birds

Que exemplo!
Pra quem reclama de tudo...
e da proximidade então... 


Filme - Persuasão

Certamente, assim como uma paisagem, um aroma, um filme toca ainda mais quando estamos sensíveis.
Hoje assisti a um dos mais belos que já tive o privilégio de conhecer. Vivenciamos a história com muita poesia, romance, expectativas. Um clássico filme de amor. Poderoso. Ficamos torcendo desde o início para o belo e carismático casal. E aquele instante em que o primeiro beijo se aproxima...
Lindos. Baseado no livro de Jane Austen (1775-1817). "Persuasão" foi o último romance completo da escritora. Ela o escreveu após terminar "Emma", concluindo-o em 1816. No entanto, ele só foi publicado postumamente em 1818.
Austen é famosa pelos livros "Razão e Sensibilidade" (obra já filmada), "Ema" e "Orgulho e preconceito" (também em dvd). Jane Austen é considerada a segunda figura mais importante da literatura inglesa (ficando atrás apenas de Shakespeare). Viveu em relativo isolamento e nunca se casou. "Persuasão" não é achado facilmente em edição brasileira e foi o último romance escrito por Jane em que encontramos a heroína "Anne Elliot" (considerada a mais notável). É considerada sua obra mais madura e se afasta do tom predominantemente satírico de seus romances anteriores.


Resumo
Solteira e infeliz, a jovem Anne Elliot (Sally Hawkins) ainda tem de lidar com as dificuldades financeiras de sua família. Por obra do destino, o capitão Frederick Wentworth (Rupert Penry-Jones) retorna à vida de Anne oito anos depois que a família dela a aconselhou a não aceitar o pedido de casamento dele. Ocorre que Wentworth está rico e rodeado de belas mulheres - todas evidentemente interessadas na fortuna dele. Anne agora será desafiada a provar que lamenta pela decisão tomada no passado e que durante todos esses anos sempre amou verdadeiramente o capitão Wentworth.
Uma obra que deixa a alma feliz e o coração sereno. 
 
"Srta. Elliot, não posso suportar isto por mais tempo. Você trespassa-me a alma. Sou metade esperança e metade agonia.
Pode ser que tenha sido injusto, fraco e rancoroso, mas jamais inconstante. Me ofereço a você com um coração que é mais seu do que quando despedaçou a oito anos atrás.
Não amei ninguém além de você.
Vim a Bath unicamente por você. Meus pensamentos e planos são todos para você.
Não se deu conta?
Mal posso escrever.
Devo partir, inseguro quanto ao meu futuro. Uma palavra, um olhar, serão suficientes.
Não me diga.. Não me diga que é tarde demais, que sentimentos tão preciosos se foram para sempre".

Espanha

Com as passagens já em mãos, momento de pesquisas e descobertas sobre uma das regiões mais belas da Europa. Muitos são as riquezas oferecidas pelo país basco. Pra quem gosta de sabores e paisagens são muitos os atrativos. Já está na listinha trazer açafrão, que é um dos meus temperos preferidos e raros aqui no Brasil. Certamente encontramos, mas a flor original tem um preço que ainda é muito alto por aqui. A região onde é colhida esta singela flor em maior quantidade é em La Mancha, centro da Espanha. Na área rural de Almagro, em fins de outubro é quando ocorre a colheita. Quando os primeiros raios de luz surgem no horizonte, o tempo começa a correr para os trabalhadores que se curvam para catar as delicadas flores roxas que cobrem os campos todos os anos por apenas duas semanas. Esta é a colheita anual do açafrão, e cada flor de seis pétalas deve ser colhida antes que se abra – e antes do nascer do sol – para que o calor não seque totalmente seu precioso conteúdo. Dentro de cada botão há três estigmas delicados e avermelhados que, quando secos, dão origem a este condimento levemente picante – ingrediente principal da clássica paella espanhola – além de outros pratos. A colheita de dez dias pode ser vista em muitos lugarejos, como Barrax, San Pedro e Consuegra. Ela também ocorre na província de Aragon, no nordeste. Mas acredita-se que a região de La Mancha, repleta de moinhos de vento, terra lendária de Don Quixote, produz o melhor açafrão, fato comprovado pela classificação DOP. É possível se programar e participar do processo. A colheita acontece nas duas últimas semanas de outubro e, às vezes, adentra o mês de novembro. No vilarejo de Consuegra, no final de outubro, ocorre o festival anual do açafrão. Também pode-se visitar uma fábrica de queijos em um vilarejo próximo, Tembleque, e experimentar o esplendor dos queijos Manchego, produzidos com leite das cabras criadas lá mesmo. Também há vinhedos na região. A cidade de Valdepeñas é considerada a “cidade dos vinhos”. Há muitas adegas que oferecem degustação.
Outras informações em www.atasteofspain.com, www.euroadventures.net, www.cellartours.com


Não dá pra não falar dos presuntos espanhóis. Mesmo quem prefere uma alimentação mais leve e saudável precisa experimentar o jamón ibérico, uma das jóias da culinária da região. O presunto espanhol está em todos os bares e restaurantes tradicionais – vê-se peças de presunto penduradas no teto, confirmando seu status de lanche predileto no país. Existem muitas variedades, mas o jamón ibérico é considerado o mais puro e saboroso de todos. Caracterizado por uma carne vermelha de gordura translúcida, tem sabor terroso, que lembra nozes, derivados das bolotas de carvalho (comida predileta dos porcos ibéricos de patas negras). Ele é produzido em muitas partes da Espanha, mas dizem que o melhor é das regiões de Extremadura e Andaluzia, onde junto aos campos cobertos de ranúnculos e oliveiras, florestas bem conservadas de azinheiras e sobreiros, provêm os porcos de bolotas. O “montanera”, ou fase de engorda, dura quatro meses. Os presuntos são condimentados e curados pelos métodos tradicionais, depois envelhecidos de nove a trinta e seis meses em gordura monoinsaturada. Para encontrar o jamón ibérico direto na fonte, é só ir até o pequeno vilarejo de Montánchez, em Extremadura. Pode-se explorar as ruelas com diversas charcuterías (delicatessens), onde se experimenta os mais variados presuntos (fatiados bem finos em uma tábua). Um ótimo acompanhamento está num vinho de pitarra ou em uma taça de xerez resfriado.


Em BARCELONA...
O principal calçadão da cidade é o Las Ramblas. O Mercat St. Josep, conhecido como La Boqueria, é um dos mercados mais famosos da Europa. Para quem vai pela primeira vez, a experiência é inesquecível: as cores, o barulho, a agitação e a dimensão do mercado são surpreendentes. Mais de trinta mil tipos de comidas são vendidos ali, desde especialidades locais, comuns, como ovos de avestruz, até “pimientos de padrón”, bacalhau e salame “fuet”. Carnes e charcuterias, peixes e mariscos, nozes, vegetais e frutas (secas e ao natural), chocolates, flores, pães, queijos – há de tudo no mercado. E a qualidade é excelente – muitos chefs estrelados no “Michelin” compram seus produtos lá. Mas os verdadeiros tesouros do La Boqueria são os numerosos quiosques. Estes são a origem da “cuina de mercat”, e a comida, além de ser de alta qualidade, é barata. Os clientes sentam em bancos nos balcões em U ao redor de cozinhas minúsculas e observam o preparo rápido das delícias catalãs. Os locais prediletos são o El Pinotxo, El Quim e o Bar Boqueria, mas há outros. Você pode tomar café da manhã, almoçar ou beliscar o dia todo, comendo tapas de aguçar o paladar, como mariscos cozidos ao vinho, morcela e grãos de bico, filhotes de lula salteados no alho e azeite de oliva com ovos – ou o principal prato catalão, encontrado em toda a parte: “pa amb tomàquet” (torradas barradas com tomates) – acompanhados por uma taça de espumante gelado. O mercado abre de Segunda a Sábado, das 8 às 2oh.
Pode-se ir a Barcelona em qualquer época do ano, mas a primavera é a melhor estação pra quem quiser evitar as multidões e o calor sufocante do verão.
www.boqueria.info, www.saboroso.com


Pa amb tomàquet é um pão grelhado com tomate, servido sozinho ou como entrada. Anchovas, vegetais assados, salame, presunto ou outras carnes curadas podem servir como acompanhamento.
Serve duas pessoas:
2 fatias largas de pão levedado ou outro pão rústico
1 dente de alho
1 tomate maduro
Azeite de oliva
Sal marinho
Toste o pão até ficar bem dourado. Se for usar o alho, corte ao meio um dente descascado e esfregue-o no pão para dar gosto. Descarte o alho. Corte o tomate ao meio e esfregue-o nas fatias de pão. Se o pão estiver levemente envelhecido e bem tostado, servirá como ralador para o tomate. Enquanto esfrega, o pão vai ficando úmido e sobrará apenas a pele do tomate, que não será usada. Coloque o azeite de oliva por cima e salpique.


Uma opção pra quem vai a Espanha é pedalar para conhecer. No País Basco, a riqueza regional de ingredientes produz uma das melhores culinárias da Espanha, com pratos que vão do churrasco de carne bovina ao bacalhau – tudo acompanhado por vinho Rioja ou cidra Basque. Os percursos por bicicleta passam por vilarejos pesqueiros ao longo da costa escarpada da região, pelos encantos culturais de Bilbao e pelo planalto espanhol e de Haro, onde os vinhos Rioja são produzidos em toda a sua glória.
www.veloclassic.com


Considerado o melhor restaurante do mundo pela revista Restaurant, em 2006, o ElBulli, do chef Ferran Adrià, ocupa uma categoria à parte. A culinária do ElBulli foi descrita como “uma linguagem com a qual é possível exprimir todas estas qualidades: harmonia, criatividade, felicidade, beleza, poesia, complexidade, magia, humor, provocação e cultura”.
Despertem ou não a sua admiração pratos como miolo de coelho com ostras ou sopa de begônia com pepitas de caju, amaranto e microlimões australianos, o fato é que a imaginação de Adrià consegue manter os comensais intrigados e cativados enquanto degustam três dúzias de refinadas criações miniaturizadas, acompanhadas por meia dúzia de vinhos seletos, ao longo de jantares que se estendem por cinco ou seis horas. Partindo das espumas culinárias e avançando por texturas ainda mais insubstanciais, como o “ar de cenoura”, ou os ovos congelados, o laboratório de Adrià está sempre aperfeiçoando novos sabores e técnicas. Distante de seu início modesto no começo da década de 1960 – o nome vem dos buldogues de brinquedo do dono original do restaurante – hoje o ElBulli recebe até um milhão de pedidos de reserva por ano e foi considerado como “a mais inventiva usina de haute cuisine do planeta”.
www.elbulli.com


Vinhos de La Rioja
La Rioja tem uma longa história como produtora dos melhores vinhos da Espanha. Valdepeñas, na região central do país, sempre foi mais conhecida por seus vinhos de mesa, mas, quando se trata de qualidade, a província de La Rioja, mais ao norte, há muito ocupa uma posição indiscutível com seus excelentes vinhos com toques de baunilha e envelhecidos em barris de carvalho. Um bom Rioja tradicional – e trata-se sem dúvida de um dos melhores vinhos do mundo – pode ser encontrado em três categorias: crianza (envelhecido durante pelo menos dois anos, um dos quais em barris de carvalho), reserva (pelo menos três anos de guarda, um dos quais em barril de carvalho) e gran reserva (cinco anos de envelhecimento, dois dos quais em barris de carvalho). Em anos recentes, muitas vinícolas menores e locais vêm desconsiderando os três tipos tradicionais. Em suas safras, um tempo menor em barris de carvalho resulta em vinhos que, em seu apogeu, liberam o rico caráter frutado das uvas tempranillo, graciano e outras que entram na elaboração de um Rioja tinto, assim como uma gama de toques pungentes. Há, portanto, opções para todos os paladares. La Rioja é uma festa para todos os prazeres da vida. Comece o passeio por Haro, famosa pelos tintos e cozinha caseira em restaurantes como o Terete e o Cueva La Recala.


Em Ezcaray, na Sierra de la Demanda, fica o estrelado (pelo guia Michelin) restaurante e pousada Echaurren. Para pratos de caça, experimente La Venta de Goyo, no vale Najerilla. Em Laguardia, a Marixa e a Posada Mayor de Migueloa têm excelentes pratos, e o vizinho hotel Marqués de Riscal, em Elciego, tem dois restaurantes dirigidos por Francis Paniego, do Echaurren. A oeste de Laguardia fica a requintada Casa Toni.
Poucas peregrinações por bares se equiparam ao sendero de los elefantes na Calle e na Travesía del Laurel, em Logroño – onde existem cerca de duas dúzias de estabelecimentos, cada qual famoso por uma especialidade. O apelido deriva do termo em espanhol “trompa” (tromba), gíria para estar embriagado. Para os melhores champis (cogumelos cheios de alho com camarão), vá ao bar Soriano. Já o Blanco y Negro é especializado em sepia (siba); a Casa Lucio, em migas de pastor (migalhas de pão com alho e chorizo); e o La Travesía, em tortilla de patata (omelete com batatas). O Bar Alegría serve um famoso “cojonudo” (ovo de codorna espetado em um palito de dente com chorizo apimentado e pimentão verde), ao passo que o El Donosti oferece embuchados (tripa de cordeiro frita). Esse eu passo!
Peça um Rioja crianza em taça de cristal para acompanhar essas delícias.
www.haro.org, www.marquesderiscal.com


Chocolate e churros em Madri
Poucas instituições evidenciam melhor a insônia de Madri do que suas eternamente populares chocolaterías (também conhecidas como churrerías), sempre fervilhando de noctívagos das 4 da manhã até a hora do desjejum. Sua marca registrada é o churro, um canudo de massa frita molhado em chocolate quente meio amargo bem espesso. Pare na venerável Chocolatería San Ginés, uma relíquia de 1894. Conte com um serviço comicamente rude, luzes fortes e ambiente frenético.
A chocolatería San Ginés fica no centro, no Paradizo San Ginés. Abre das 9 da manhã às 7h da noite.
www.gomadrid.com, www.esmadrid.com


CULINÁRIA BASCA
San Sebastián, no norte da Espanha, é a cidade com mais estrelas do Guia Michelin per capita – o melhor destino gastronômico do mundo.
O elegante balneário de San Sebastián (Donostia, em basco) é famoso por sua baía em forma de concha e uma arquitetura belle époque estonteante. Ele também ostenta um trio estrelado de chefs, Juan Mari Arzak, Martín Berasategui e Pedro Subijana, à frente de restaurantes que são a vanguarda da culinária. Mas se você se limitar aos top de linha, perderá outras experiências gastronômicas bascas. De “Asadores” servindo carnes assadas a locais com especialidades como “bacalao al pio-pio” (bacalhau apimentado), a comida é deslumbrante. Experimente entrar numa sidrería (casa de sidras), onde você come enquanto toma sidra de barris de carvalho, ou em um café no porto ou na beira da praia, que servem frutos do mar tão frescos que ainda vibram. Mas, para uma experiência basca mais autêntica, procure bares como o La Cepa nas ruas estreitas da Parte Vieja e aprecie os melhores pintxos (equivalentes aos tapas no restaurante da Espanha) de San Sebastián. Esses aperitivos delicados incluem tortilla (omelete) de batata, fatias de presunto, pimentas verdes fritas comidas com sal marinho, chouriço e croquetes de bacalhau – não se esqueça de olhar o quadro para itens específicos que precisam ser preparados na hora. Coloque tudo o que quiser num prato e saboreie com um pouco de “txakoli” – o vinho branco semiespumante local, servido com a garrafa no alto para aerar. Vá de bar em bar como esse para passar uma tarde como os bascos e estará em excelente companhia – dizem que os chefs estrelados costumam aparecer na região para se inspirar.


Dono do restaurante Arzak, três estrelas no Guia Michelin, Juan Mari Arzak costuma ser chamado de campeão da nova culinária basca. Segundo dizem, depois de ouvirem o chef francês Paul Bocuse falar da nouvelle cuisine na década de 1970, ele decidiu usar as idéias de Bocuse para reinventar a cozinha basca. Ele fez reuniões com os chefs amigos, nas quais apresentou versões reinventadas de pratos bascos clássicos. Essa revolução formaria a base da nova culinária espanhola, La Nueva Cocina. Arzak ainda comanda seu restaurante com a irmã Elena, e ainda está criando pratos inovadores baseados em pratos bascos tradicionais. Experimente a lagosta com azeite de oliva branco ou batatas fritas com camarão ao molho de açafrão.
www.basquetours.com, www.arzak.info


O famoso leitão de Segóvia
A uma hora de carro a noroeste de Madrid, um mesón do século 19 oferece um deleite visual com uma felicidade gastronômica.
Pelas janelas treliçadas dos pisos do Mesón de Cándido, vemos a luz do sol da tarde bater nos arcos do aqueduto romano de 2 mil anos de idade, pertencente à antiga cidade de Segóvia. Junto à mesa, um garçom divide o leitão tostado que foi pedido. Esse banquete, especialidade segoviana, não é para os mais sensíveis. Tudo começa com um leitão de 21 dias, não desmamado, cuidadosamente selecionado. Depois de passar pelas mãos do abatedor, os pelos dos leitões são chamuscados e uma mistura de alho, louro e banha derretida é esfregada no corpo todo. Em seguida ele é assado lentamente por duas horas sobre carvão de carvalho no forno de tijolos de 150 anos do Mesón de Cándido. Agora ele está pronto para servir. Segundo o ritual, o garçom divide o leitão em porções usando a beirada de um prato para mostrar a perfeição da carne crocante por fora e a maciez da carne por dentro, que dissolve na boca. Depois disso, o prato é estilhaçado no chão de pedra para levantar os ânimos. Um bom vinho tinto Ribera del Duero, feito com uvas plantadas no vilarejo de Duero, norte de Segóvia, é excelente com esse prato favorito no inverno. Aprecie a refeição sem pressa enquanto lá fora a luz inclinada do sol transforma o imenso aqueduto em tonalidades cada vez mais fortes de dourado. Também servem cordeiro e perdiz.
www.mesondecandido.es, www.turismodesegovia.com


Paella em Valência
A cidade de Valência, na costa mediterrânea da Espanha, é a capital incontestável do prato mais famoso do país.
As pessoas em Valência têm fortes convicções sobre sua relação com Barcelona e a Catalunha, ao norte, com a língua (que muitos se recusam a chamar de catalão) e com a paella. Feita pela primeira vez pelos camponeses mouros na época do governo muçulmano na península Ibérica, a paella era a comida dos pobres, preparada com arroz curto cozido azeite, açafrão, vegetais e o que estivesse à mão, frango, coelho, pato ou caracóis. O arroz de grão curto ainda é o ingrediente principal e, numa paella perfeitamente cozida, deve ser macio por cima e crocante e caramelado por baixo – essa camada de baixo, chamada “socarrat”, é considerada a melhor parte. Há duas versões básicas: paella valenciana, feita com carne, e sua rival, a “paella marinera”. Os puristas de Valência dão tudo o que podem para impor os mandamentos da paella – não acrescentar linguiça , não misturar carne com frutos do mar, não se esquecer nas ervilhas, não se esquecer das favas -, mas acaba que a melhor coisa é simplesmente saborear o prato. Entre os principais empórios da cidade, temos: Casa Roberto, El Forcat, La Pepica, La Marcelina e El Rall. Enquanto isso, os chefs locais estrelados estão ocupados criando versões inovadoras de paellas em restaurantes como Ca Sento e La Sucursal.
Os pontos turísticos de Valência incluem o antigo Barrio del Carmen e a ultramoderna Ciutat de les Arts les Ciències, projetada pelo arquiteto Santiago Calatrava, natural de Valência. Com fome? Visite o adorável Mercado de Colón.
www.gotovalencia.com, www.valencia-on-line.com


Restaurante histórico em Madri
Fundado em 1725 numa construção quinhentista incorporada dentro dos muros da cidade de Madri, Botín foi um dos restaurantes predileto de Ernest Hemingway. Embora popular entre os turistas estrangeiros, o Botín ainda ostenta pratos inflexivelmente espanhóis. As especialidades incluem leitão e cordeiro assado no primeiro forno do restaurante.
Calle Cuchilleros, 17 (metrô La Latina) www.botin.es


Tapas e o consumo itinerante de bar em bar chamado “tapeo” sempre foram populares em Madri. Pequenas porções servidas com bebidas, as tapas se tornaram na Espanha uma arte da miniatura culinária. Procure por um lugar cheio de pessoas e com barulho de festa. Entre e experimente os pratinhos de “boquerones” (anchovas), gambas (camarões), “queso manchego” (queijo de ovelha), pimientos (pimentões) grelhados e outros acepipes.
A Plaza de Santa Ana e a Calle Huertas têm dúzias de bares de tapas, começando com o frequentado por Hemingway, a famosa Cervecería Alemana. Para baixo da plaza Mayor em Cava Baja e ao longo da Calle el Almendro há uma série de tabernas de tapas, além do Barrio de Salamanca.
O rei Felipe II é mais bem conhecido no mundo anglo-saxão por sua tentativa de sobrepujar a Inglaterra elisabetana com a malfadada Armada Espanhola. Ele também foi o homem que, em 1561, transferiu a corte real da Espanha de Toledo para o centro geométrico da península Ibérica, Madri, transformando-a na nova capital de seu vasto império. Ele jamais pensou na atração magnética que essa próspera afluência à cidade provocaria nos quatro cantos da Espanha. Há muito tempo Madri é conhecida como o primeiro “porto” da Espanha, onde peixes do Atlântico e do Mediterrâneo chegam em condições imaculadas, melhores em qualidade que os produtos deixados para trás nas costas para o consumo local. O menu castelhano regional brilha com assados e cozidos, melhores no inverno, mas, com toda a variedade da culinária nacional à escolha, você encontrará comida para cada estação – “gaspacho” andaluz, arroz mediterrâneo, peixe basco, frutos do mar galegos e a moderna gastronomia “molecular” catalã. Para assados, vá ao Asador Frontón I; para “cocido madrileño” (cozido de carne e feijão, típico de Madri), conheça o La Bola ou o Lhardy, enquanto o Casa Ciriaco ou o Casa Lucio são melhores para outros pratos castelhanos, como perdiz e sopa de favas. Levando a gastronomia um pouco mais além, o Casa Benigna e o L’Albufera são bons para pratos de arroz, o La Trainera e o Combarro para peixe, o Asador Gaztelu e o Julian de Tolosa para carne bovina basca e o La Terraza del Casino e o Santceloni para a cozinha contemporânea.
No coração da península Ibérica a 667 metros acima do mar, Madri tem um clima extremo, com ventos congelantes no inverno e verões quentes e secos. Opte pela primavera ou o outono.
*Agrade os olhos com outro tipo de banquete – o tesouro da pintura. O passaporte “Art Mile” para os três principais museus – o Prado, o Centro de Arte Reina Sofia e o Thyssen-Bornemisza – é o ingresso básico para as riquezas artísticas que demorariam uma vida inteira para serem exploradas.
www.esmadrid.com, www.gomadrid.com


As fotografias virão apenas em outubro.
Agora ficam apenas as dicas. Mas encontrei informações bem legais nos seguintes vídeos:


Madri



Barcelona

























Hoje


Deixar amadurecer inteiramente (...) e aguardar com profunda humildade e paciência a hora do parto de uma nova claridade: só isto é viver artísticamente na compreensão e na criação. O tempo não serve de medida - ser artista não significa calcular e contar, mas sim amadurecer como a árvore que não apressa a sua seiva.
(Rilke, 1980)