O Demônio de San Petersburgo - A Vida de Dostoiévski




Filme lançado em 2008.

A conturbada vida do escritor Fiódor Mikhailovich Dostoiévski é contada tendo como base o movimento revolucionário russo que derrubou o império burguês. A ideologia que insuflou os intelectuais revolucionários tinha como ponto fundamental as ideias propagadas por Dostoiévski nos seus livros. Lidar com a ideia de que pessoas estavam sendo mortas por causa disso mexeu com a cabeça do escritor.

O filme mostra todo o sofrimento vivido por Dostoiévski: os anos de trabalhos forçados na Sibéria, a rejeição dos outros presos, que o tinham como um intelectual que traiu o movimento, e as dificuldades financeiras. Dostoiévski escrevia sob pressão de um editor que o obrigava a produzir compulsivamente. Foi nesse período difícil que ele conheceu “Anna Grigorievna Snítikin”, uma estenógrafa com quem se casaria mais tarde.

O título do filme faz alusão à célebre obra “Os Demônios", em que Dostoiévski criou uma trama ficcional para contar uma história verídica, o assassinato do estudante I. Ivanov. O niilismo do grupo extremista da obra literária se faz presente no filme na desesperada luta para derrubar a burguesia imperialista. O filme retrata um Dostoiévski humano, vivendo uma eterna crise, imagem que vai de encontro à figura mitológica eternizada nos livros de história e na mídia.

Miki Manojlovi´c, o ator sérvio que interpreta Dostoiévski, merece uma menção especial. Absolutamente convincente no papel, ele compôs um personagem denso que leva o espectador a viajar no filme e na dramática história do grande escritor. 



Ficha Técnica
País de origem: Itália
Título original: I Demoni Di San Pietroburgo
Título em português: Demônios de São Petersburgo
Gênero: Drama
Produção: Casablanca Filmes
Direção: Giuliano Montaldo
Elenco: Miki Manojlovic, Roberto Herlitzka, Carolina Crescentini, Anita Caprioli

Sobre o escritor
Fiódor Mikhailovitch Dostoiévski nasceu em Moscou, no hospital onde seu pai, Mikhail Andriéievitch Dostoiévski, clinicava. Mikhail, apesar de imprimir uma disciplina severa à família, incentivava os sete filhos ao amor pela cultura. Em 1837, a mãe de Dostoiévski morreu precocemente de tuberculose. A perda foi um choque para o pai, que acabou mergulhando na depressão e no alcoolismo. Fiódor e seu irmão foram então enviados à Escola de Engenharia, em São Petersburgo.

Em 1839, morreu o pai de Dostoiévski. As causas são controvertidas, e uma das versões é que o pai – que tinha fama de avaro e de violento – foi assassinado pelos servos enfurecidos com os maus tratos. Dostoiévski culpou-se durante toda a vida pelo fato de, em várias ocasiões, ter desejado a morte do pai. Essa questão da culpa, que acabou transparecendo em sua obra, foi estudada por Sigmund Freud no famoso artigo "Dostoiévski e o parricídio", de 1928.

Em 1843, concluiu os estudos de Engenharia e obteve o grau militar de subtenente. Durante esses anos, dedicou-se à tradução, incluindo a obra de Balzac, um autor que ele admirava. Em 1844 abandonou o exército e começou a escrever a novela Pobre gente, obra que recebeu uma crítica positiva no seu lançamento. Foi nesta época que contraiu dívidas e sofreu o primeiro ataque epilético. À primeira obra, seguiram-se Niétotchka Niezvânova (escrito entre 1846 e 1849), Noites brancas (1848), entre outras, que não tiveram a mesma acolhida da crítica.

Enquanto isso, Dostoiévski engajou-se na luta da juventude democrática russa pelo combate ao regime autoritário do Tsar Nicolau I. Em abril de 1849 foi preso e condenado; em novembro do mesmo ano, acabou sentenciado à morte pela participação em atividades antigovernamentais junto a um grupo socialista. No dia 22 de dezembro, chegou a ser levado ao pátio com outros prisioneiros para o fuzilamento, mas, na última hora, teve a pena de morte substituída por cinco anos de trabalhos forçados na Sibéria, onde permaneceu até 1854.

A experiência abalou profundamente o escritor, que iniciou o romance Memórias da casa dos mortos, publicado em 1862. Alguns anos antes, Dostoiévski conheceu María Dmítrievna Issáieva, viúva de um maestro, com quem se casou em 1857.

Retornou a São Petersburgo em 1859, dedicando-se integralmente a escrever, produzindo seis longos romances, entre os quais suas obras-primas Crime e Castigo (1866), O idiota (1869) e Os irmãos Karamazóv (1880). É também dessa época a criação da revista Tempo, em cujo primeiro número apareceu parte de Humilhados e ofendidos, obra que também remete à sua experiência na Sibéria. A década de 1860 é marcada por viagens pela Europa, período no qual conheceu sua grande paixão, Paulina Súslova, que acabaria o traindo. Após a decepção amorosa, Dostoiévski voltou para a esposa, que morreu logo depois.

Solitário, endividado e tendo que sustentar a família do irmão recém-falecido, o escritor ditou O jogadorpara a sua secretária, Anna Grigórievna, com quem se casaria depois da recusa de Paulina em reatar o relacionamento. O livro é um sucesso e colabora para restabelecer suas finanças. Logo depois de publicarCrime e castigo, viajou com a nova mulher para Genebra onde nasceu a primeira filha que morreu logo em seguida. A partir de 1873, passou a editar a revista Diário de um escritor, na qual publicava histórias curtas, artigos sobre política e crítica literária.

Em 1880 participou da inauguração do monumento a Aleksandr Pushkin, em Moscou. Na ocasião, pronunciou um memorável discurso sobre o destino da Rússia. No dia 8 de novembro do mesmo ano, em São Petersburgo terminou de redigir Os irmãos Karamazóv, em São Petersburgo. Morreu em fevereiro de 1881.
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O Anticristo - Lars Von Trier





2009
Um filme impactante.
Destaque para a crítica de Gustavo Pavan - em Cinematicabr.
Está certo que Lars Von Trier é mesmo um dos maiores realizadores da safra atual. Não bastasse o próprio diretor se intitular dessa maneira, eu também vou me render, mais uma vez, ao seu brilhantismo. Cara difícil, antiamericano, simpatizante de práticas nazistas, como ele próprio declarou em Cannes no ano passado, gerando grande polêmica ao redor do mundo, Von Trier consegue fazer de seus filmes uma grande aula de roteiro, direção, fotografia e contemplação.

Criador do Dogma 95, o diretor tem em seu currículo filmes como Ondas do Destino (1996), Dogville (2003) e, o genial e mais recente, Melancolia (2011). A mais polêmica de suas realizações talvez seja mesmo Anticristo (Antichrist, Dinamarca, Alemanha, França, Itália, Polônia. 2009), como disse Roger Ebert: “um garfo no olho”. O que Anticristo gera nos espectadores é algo parecido com uma mistura de repulsa e sadismo, não sobrando espaço para uma única respiração. 



Dividindo a maioria das opiniões, Anticristo deixa um rastro arrasador, independente da aceitação do filme. Se você gosta, se torna um apreciador imagético e sensato da obra de Von Trier, se não gosta, a experiência foi realmente dura. Filme forte, trágico, que necessita de uma boa dose de estômago e concentração pra ser levado. Aliás, ser levado pelo filme é o grande trunfo de Von Trier, que consegue construir um ritmo essencial à colaboração do espectador, já que a história, se não fosse o diretor, seria facilmente abandonada por quem assiste: a loucura não tem limite. 

O filme é dividido em quatro capítulos, um prólogo e um epílogo. Logo de cara, Von Trier nos apresenta uma cena compatível ao seu brilhantismo. Em preto e branco, o prólogo de Von Trier dá margem aos acontecimentos que vão seguir o trágico início. Numa câmera lenta excepcional, o diretor coloca o casal protagonista, interpretado por Charlotte Gainsbourg (Palma de Ouro de Melhor Atriz em Cannes pelo papel) e Willem Dafoe, numa cena de sexo explícito, enquanto isso, o filho, ainda muito bebê, sai do berço, abre a janela e se joga do prédio. Como é do feitio de Von Trier, o momento da morte do bebê coincide exatamente com ápice do orgasmo da mulher, colocando em oposição o lado vítima e o lado culpada que se chocaram durante toda a película.



A todo o momento, Von Trier coloca as coisas em oposição, hora aproximando, hora igualando. Na medida em que a vida das personagens vai perdendo a cor, com o caos se instalando fervorosamente no cotidiano, o filme, ao contrário, vai ganhando uma fórmula imagética que plastifica todo o sentimento, a dor e as questões que envolvem a obra. A fotografia, belissimamente sincera, liga os pontos da dor e da realidade, movendo o espectador a uma proliferação de sensações até então inimagináveis. Descobrimo-nos sádicos, dramáticos, crentes e animais. Os animais é outro ponto chave dessa história, já que a raposa, o corvo, o lobo e o cervo dão o tom animalesco ao personagem de Willem Dafoe, incutindo a ideia de que a sua ciência (perdedora) e seu propósito (egoísta) não surtem efeito graças a sua semelhança com as coisas mundanas. O ar que tu respiras, o que comes e o que vestes não te faz diferente de nenhum ser. E aí que entra a ideia maior de Von Trier, diminuir o ser humano a sua mais temida face: o animal.


A floresta, ironicamente chamada de Éden, colocará os personagens frente a eles mesmos, ao nojo interno de si e do outro, a ligação entre dor e passagem, dor e momento. O Homem encontra sua pior face e tenta destruí-la, infligir dor, matar todas as suas células que possam dar uma posição saudável, de vida. E, acredite, essa dor não é sentida pela mãe, a perda do filho é a válvula de escape para o encontro do seu ser com a natureza, aquela que vai torturar, manipular e matar.

O trabalho dos atores é realmente sensacional. Os personagens não perdem nada em relação à complexidade de seus caminhos. O marido, que hora misógino, tentador do controle sobre a mulher, traça sabidos momentos de tortura sobre as feridas do lado mãe, como o sexo quando entra como fator de liberação dos sentimentos, enquanto ela, enlouquecida, só vê na satisfação da culpa o caminho da glória final. 
Deus pode não ter nada a ver com a história... ou ter tudo a ver com ela.



Mais Greenaway




2007
Sinopse: O ano 1642 marca o ponto de viragem na vida do famoso pintor holandês, Rembrandt, transformando-o de uma rica e respeitada celebridade num pobre desacreditado. Perante a insistência da sua mulher grávida Saskia, Rembrandt concorda relutantemente em pintar a Milícia dos Mosqueteiros de Amsterdã num retrato de grupo que mais tarde ficará conhecido como “A Ronda da Noite”. Ele rapidamente descobre que existe uma conspiração, em marcha, entre os mercadores de Amsterdã com objetivos financeiros e de poder pessoal, naquela que era, à época, a cidade mais rica do Mundo Ocidental. Rembrandt tropeça num homicídio chocante. Confiante no desejado nascimento de um filho e herdeiro, Rembrandt está determinado a expor os conspiradores assassinos construindo meticulosamente a sua acusação sob a forma de uma pintura encomendada, pondo a descoberto um lado desagradável e hipócrita da Época de Ouro da Sociedade Holandesa.



Crítica: Peter Greenaway é um dos mais originais cineastas e autores que navegam no firmamento cinematográfico e, embora os tempos estejam bem diferentes, ele mantêm-se fiel aos princípios propostos desde o início da sua carreira, recorde-se que ele é originário do universo pictórico, sendo portanto a pintura um dos mais importantes elementos do seu cinema.

E quando nos recordamos desse verso do grande poeta que dizia “mudam-se os tempos mudam-se as vontades”, percebemos a razão do cinema do cineasta permanecer fiel aos seus princípios. “A Ronda da Noite” / “Nightwatching” é a prova provada (que nos desculpem a redundância) disso mesmo. Aqui Peter Greenaway volta a navegar no interior da pintura, mais concretamente revisitando a vida do célebre pintor holandês Rembrant e um dos seus mais famosos quadros, intitulado “Night Watch” / “A Ronda da Noite”, no qual ele denuncia uma conspiração da célebre Milícia dos Mosqueteiros de Amsterdã, havida nesse ano de 1642, onde todos os participantes tinham uma razão obscura, que será iluminada/retratada pela pintura do gênio.

Estamos assim perante uma obra que faz a ponte com um dos seus filmes mais célebres, o inesquecível, “O Contrato” / “The Draughtman’s Contract”, que nesses saudosos anos oitenta nos revelou um cineasta. Na época muito se escreveu sobre ele e a sua obra, para depois lentamente cair no esquecimento. Tal como em “O Contrato”, em que o pintor contratado contava nos seus quadros como se processou um assassinato sendo mais tarde, também ele, vítima do seu desafio artístico, aqui Rembrant, que na época já não possuía a celebridade dos primeiros tempos e lutava com enormes dificuldades econômicas, repare-se a forma como a sua mulher Saskia (Eva Brithistle) o convence a aceitar a encomenda da Milícia, será também ele perseguido pela sua visão, ou seja, o artista usa a sua arte para denunciar um crime que tinha ficado impune.

Peter Greenaway, após a ruptura com Michael Nyman (o habitual compositor das suas bandas sonoras, que se tornou famoso através da sua colaboração com o cineasta), voltou a possuir nesta película uma espantosa banda sonora da autoria de Wlodzimierz Pawlik que constrói ao longo do filme uma partitura onipresente, utilizando os instrumentos de cordas de uma forma redentora, pontuando o filme como se fosse também ele um pintor.

Por outro lado a fotografia, esse “must” eterno da obra do cineasta, revela-nos Reiner von Brurmmelen que iniciou a sua colaboração com o cineasta em “8 ½ Women”, seguindo as pisadas desse grande Mestre da fotografia chamado Sacha Vierny, outro dos habituais colaboradores de Greenaway. Reparem como Brurmmelen usa a luz de uma forma maravilhosa e depois há sempre esses “travellings” que nos fascinam, símbolo mais-que-perfeito da assinatura do cineasta.

Mal surgem as primeiras imagens de “A Ronda da Noite” no écran, verificamos de imediato que estamos perante um filme de Peter Greenaway e, depois, só nos resta mergulhar serenamente na sua Arte e acompanhar a vida do célebre pintor holandês.

Redescobrir esta obra de Peter Greenaway é mergulhar num universo de luz e cor, onde o medo e o amor do artista andam de mãos dadas, em busca da salvação da sua Arte. Descobrir de “Nightwatching” representa o mergulho perfeito num cinema que, infelizmente, se tornou cada vez mais invisível para todos nós.

Título Original: Nightwatching
Realização: Peter Greenaway
Argumento: Peter Greenaway
Elenco: Martin Freeman, Emily Holmes e Eva Birthistle
Gênero: Drama
Fonte: www.foradecena.com/critica-nightwatching-a-ronda-da-noite













Um pouco de música - Jesse Cook


Guitarrista canadense, compositor e produtor.
Mais influente figura do "novo flamenco".
Nasceu em Paris, em 1964.