João Cabral de Melo Neto

O artista inconfessável

Fazer o que seja é inútil
Não fazer nada é inútil
Mas entre fazer e não fazer
mais vale o inútil do fazer
Mas não, fazer para esquecer
que é inútil: nunca o esquecer
Mas fazer o inútil sabendo
que é inútil e que seu sentido
não será sequer pressentido,
fazer: porque ele é mais difícil
do que não fazer, e dificilmente
se poderá dizer
com mais desdém, ou então dizer
mais direto ao leitor Ninguém
que o feito o foi para ninguém.

(João Cabral de Melo Neto)